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Carteira de pedidos da indústria de máquinas é a mais baixa da história

O setor industrial era considerado peça-chave para um crescimento mais forte em 2013 diante do arrefecimento do setor de serviços – motor da economia brasileira nos últimos anos. Mas a mudança de humor dos mercados nacional e internacional tem abalado a confiança dos empresários, e levado as empresas a postergar e a desistir de projetos.
O setor de máquinas e equipamentos – termômetro da indústria – sente os efeitos dessa lentidão nos investimentos. O nível de utilização da capacidade instalada está em 73,9%, quando o ideal seria algo entre 86% e 90%. A carteira de pedidos de bens de capital mecânicos em maio era de 2,71 semanas, o menor nível da história, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Em setembro de 2008, início da crise financeira internacional, a carteira estava em 4,46 semanas.
Os indicadores são preocupantes porque revelam que há uma grande ociosidade nas fábricas, resultado de uma baixa demanda pela produção em um setor responsável por abastecer as indústrias do País. “Nunca tivemos uma carteira de pedidos tão baixa como em 2013”, afirmou José Velloso, presidente executivo da Abimaq. “A situação mais crítica é a de produtos sob encomenda, principalmente os usados em infraestrutura.” Dos 30 subsetores, só o de máquinas agrícolas está com crescimento expressivo.
De janeiro a maio, o setor de máquinas e equipamentos faturou R$ 30,812 bilhões, queda de 7,6% em relação ao mesmo período de 2012. A importação tem uma parcela de responsabilidade nisso. Nesse período, houve avanço de 1,5%, para US$ 13,214 bilhões. Já as exportações recuaram 16,4%, para US$ 4,444 bilhões. “O grande problema é a perda de competitividade de toda a indústria de transformação”, disse Velloso.
O primeiro trimestre de 2013 até trouxe boas notícias: a Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 4,6% ante o mesmo período de 2012. Mas o cenário mudou. A inflação em alta diminuiu o ímpeto do consumo. As manifestações deixaram o cenário político mais incerto, a confiança do empresário começou a cair, e o mercado financeiro também mudou o tom com o Brasil: em junho, a agência Standard & Poor’s alterou a classificação da economia brasileira de estável para negativa. O ambiente internacional também ficou mais complicado.
O último Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) mostra que o avanço do investimento perdeo fôlego. A média móvel trimestral do Indicador Mensal do Investimento (IMI) recuou de 3,9% em abril para 2,2% em maio. “Em alguns setores está havendo uma perda de confiança e isso tende a impactar o investimento”, disse Armando Castelar Pinheiro, do Ibre/FGV.
Pessimismo
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria (Icei), divulgado na semana passada, mensurou o tamanho do pessimismo com a economia brasileira. O indicador caiu 4,9 pontos, para 49,9 pontos em julho, nível mais baixo desde abril de 2009. “A atividade econômica não se materializou na intensidade que se esperava”, disse Flávio Castelo Branco, gerente executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Os empresários paulistas estão ainda mais pessimistas. O Icei-SP registrou queda de 9,7% em julho. “O primeiro semestre foi abaixo daquilo que se esperava”, afirmou José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “A perspectiva de aumento de investimento se deteriorou muito nas últimas quatro semanas.”
Recurso externo recua 47%
De janeiro a maio, entrada de investimento externo direto no setor ficou em US$ 5,8 bi, ante US$ 10,9 bi no mesmo período de 2012.
O ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) para a indústria caiu 47% neste ano. Entre janeiro e maio, o setor recebeu US$ 5,8 bilhões, abaixo dos US$ 10,9 bilhões no mesmo período de 2012. Os dados são do Banco Central e foram compilados pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet).
A queda dos recursos para a indústria supera o recuo total de IED para a economia brasileira, que caiu 23% no mesmo período, de US$ 21,7 bilhões para US$ 16,7 bilhões. O setor de serviços foi o único a apresentar crescimento no período, alta de 6% (de US$ 7,5 bilhões para US$ 8 bilhões). A agropecuária teve queda de 7% (de US$ 3 bilhões para US$ 2,8 bilhões).
“Estamos surfando numa onda negativa de investimento para o setor industrial no mundo e o Brasil não é uma exceção. Há vários fatores contra nós, como perda de dinamismo, redução do consumo e da renda real por causa da inflação mais alta”, afirmou Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet. As principais quedas na indústria são verificadas nos setores de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-79%), metalurgia (-75%) e produtos químicos (-55%).
A indústria também vem perdendo participação do IED. Até maio, 35% dos investimentos fora para o setor – é o número mais baixo desde 2008, quando a fatia industrial foi de 32%.
No ano passado, o agravamento do cenário internacional, sobretudo na Europa, deixou evidente a dificuldade de circulação de fluxos de investimentos em todo o mundo. Em relação a 2011, a queda foi de 18%, e com isso os investimentos estrangeiros ficaram abaixo do período pré-crise mundial. Na indústria global, a queda de recursos disponíveis para fusões e aquisições no setor foi de 33%, de US$ 205 bilhões para US$ 137 bilhões, e de 42% para novos projetos, de US$ 453 bilhões para US$ 264 bilhões.
Com um cenário internacional menos amigável, ficou evidente a perda de competitividade da indústria brasileira, com um encarecimento da produção. Isso ajuda a afastar novos investimentos e abre caminho para a importação.
Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, o valor do aço no Brasil é cerca de 40% a 60% mais caro do que na Europa. “O custo médio de capital de giro para uma empresa associada da Abimaq é de 30% a 40% ao ano. Não dá para competir com uma empresa da Alemanha, onde esse custo não passa de 3%”, afirmou Velloso.
As barreiras que travam e encarecem a produção da indústria nacional, aliadas ao real valorizado, fizeram com que o produto brasileiro ficasse 34,2% mais caro em 2012 em relação aos principais parceiros comerciais que exportam para o Brasil, segundo estudo da Fiesp.
“Essa relação deve mudar com o real mais desvalorizado este ano. A competitividade melhora, mas, para o consumidor, o mercado vai diminuir de tamanho”, disse José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp. “Para a indústria, a alta do dólar pode trazer mais impactos positivos do que negativos”.
(O Estado de S.Paulo, 22/07/13)

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