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Aposta na alta do dólar pode render bilhões a empresas

A forte disparada do dólar pegou de surpresa até quem apostou em sua valorização. Empresas como a JBS, dona da marca Friboi, investiram pesado em contratos para proteger suas dívidas em dólar (hedge cambial). Agora não só estão blindadas, como vão colher cifras bilionárias em seus balanços.

Uma aposta alta nesses contratos – conhecidos como derivativos de câmbio –, pode fazer a maior produtora de carnes do mundo lucrar R$ 5 bilhões no terceiro trimestre deste ano – valor 150% maior que os R$ 2 bilhões esperados. A estratégia deve garantir uma receita extra de R$ 12,7 bilhões no balanço financeiro da companhia, segundo relatório do banco Credit Suisse.

No documento, os analistas Viccenzo Paternostro e Vitor Paternostro afirmam que a JBS está em “posição confortável”, já que 84% de sua receita é em dólares, assim como um percentual semelhante de sua dívida. “A companhia adquiriu bilhões de dólares em contratos futuros e pode se beneficiar fortemente com a depreciação do real”, diz o relatório.

Derivativos são contratos firmados por empresas – geralmente as que atuam com comércio exterior, como exportadoras e importadoras – para proteger-se do risco de perder dinheiro com o sobe e desce do dólar.

É uma espécie de seguro (hedge) que dá o direito de comprar a moeda estrangeira, no futuro, por um valor combinado de antemão. Existem vários tipos de estratégias. O Banco Central utiliza algumas delas para tentar controlar o avanço do dólar (veja a diferença entre cada uma).

Se uma empresa fatura em reais, mas tem dívidas em dólares, pode ser interessante investir nestes contratos que a livram do risco de perder dinheiro com uma disparada da moeda norte-americana. Mas a estratégia tem um custo e envolve riscos. Se o dólar cair ou ficar estável, a empresa pode ter perdas e isso complica seu balanço.

Aposta de alto risco

O superintendente de produtos da Cetip, Fábio Zenaro, observa que os derivativos cambiais sempre foram amplamente adotados por empresas com forte atuação no comércio exterior. “Se a JBS não tivesse apostado nos derivativos, sua dívida teria subido muito no período”, diz.

Para o analista da Mesa Corporate, Luiz Marcatti, a estratégia da JBS teve mais relação com a proteção de sua dívida do que com o objetivo de gerar receita, especialmente depois que sua dívida aumentou com a compra de ativos no exterior, como a Moy Park. “Foi uma aposta altamente arriscada. A JBS investiu alto e se deu bem”, analisa.

Marcatti acredita que, assim como a JBS, empresas do mesmo porte, especialmente as exportadoras, também buscam os derivativos para se blindar do risco de perder dinheiro com a oscilação cambial. Tentar gerar receita com a estratégia, segundo ele, seria como “brincar de roleta russa” ou “com isqueiro em barril de pólvora”, ainda mais depois que o Brasil perdeu seu selo de bom pagador (grau de investimento), diz o economista.

Nota de crédito

O tamanho da aposta mostra que há risco de um tombo tão grande quanto os ganhos. Segundo o Credit Suisse, os derivativos custam à empresa entre 11% e 12% por ano, o que significa que, “se o real estacionar, essa estratégia vai afetar negativamente os ganhos da JBS e o fluxo de caixa, como aconteceu no segundo trimestre de 2015”, diz o relatório.

A proteção contra o câmbio também ajudou a empresa em uma melhora de sua nota de crédito. Nesta quarta-feira (30), a Fitch elevou o rating da JBS, na contramão de uma série de rebaixamentos e sob a ameaça de corte inclusive da nota soberana do Brasil.

Segundo a Fitch, a estratégia de utilizar o instrumento de hedge no balanço da JBS é agressiva e aumenta o seu perfil de risco, “apesar do recente impacto positivo na alavancagem líquida da companhia”.

A agência destacou que a compra da Moy Park eleva a dívida da empresa, mas o fato de “100% de sua dívida estarem protegidos por hedge em junho de 2015” vai mitigar o nível de endividamento.

Procura por proteção aumentou

A busca por contratos de proteção cambial tem aumentado desde que o dólar passou a subir. “Quando há mais volatilidade na moeda, observamos que as empresas procuram mais proteção”, observa Zenaro, da Cetip, que opera a maior parte dos ativos financeiros privados do país.

Os contratos de termo de moeda, por exemplo, passaram a ter um volume médio maior de 2013 para cá, segundo Zenaro. Entre junho e agosto, o número desses contratos feitos por exportadores brasileiros mais que dobrou em relação ao mesmo período de 2014. Foram 15.879 negociações este ano, contra 7.626 no ano passado.

Já o volume contratado subiu menos: US$ 52,3 bilhões entre junho e agosto deste ano contra 49,8 bilhões em 2014. “No passado, empresas de grande porte eram as que mais adotavam a proteção. Agora, cresceu a adesão de importadoras e empresas de médio porte”, conta Zenaro.

(G1 05/10/2015)

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