Que falta faz uma agência de rating para as agências de rating. Os vergonhosos erros durante a crise dos subprimes não foram suficientes para diminuir a claque dessas cassandras viperinas, guiadas pela mão visível da financeirização da economia internacional. Não se sabe bem o que é pior: se a impunidade desses entes amorais cujo objetivo é capturar a soberania do Estado ou a caixa de ressonância que uma mídia abobalhada lhes empresta, sem qualquer compromisso cívico. Caso estivessem vivos, George Orwell, idealizador da figura do Grande Irmão, e Jeremy Bentham, criador do panóptico, o presídio perfeito, achariam que a ficção mais cruel é ainda um ambiente arejado perto da realidade forjada pelas classificadoras de risco. Qualquer palavra balbuciada pelas agências de rating é logo recebida com a força de uma tábua mosaica e instantaneamente disseminada junto à opinião pública. O RR se deu ao trabalho de contabilizar a presença destas empresas no noticiário. Somente no mês de janeiro, os quatro maiores veículos diários do país – Valor Econômico, O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo – fizeram 79 menções ao trio de ferro do setor: Moody´s, Standard & Poors e Fitch. Ou seja: em média, a cada dia, esta trinca de ases teve direito a 2,63 referências nas mais influentes publicações do país. Para efeito de comparação, no mesmo período a maior corporação privada do Brasil, a Vale, somou um número de citações nos quatro ornais apenas um pouco superior: 88.
(Relatório Reservado, 14/02/2014)