A retirada de recursos do Brasil superou o ingresso de divisas em US$ 3,33 bilhões na semana passada, informou o Banco Central nesta quarta-feira (4). Com isso, o movimento de fevereiro, que estava positivo até a semana anterior, “virou” e passou a registrar saída de divisas, ficando no vermelho. Em todo mês passado, US$ 1,14 bilhão deixaram o país. Trata-se da primeira retirada de recursos para um mês fechado desde dezembro do ano passado – quando US$ 14,05 bilhões saíram do Brasil. Em janeiro deste ano, US$ 3,9 bilhões ingressaram na economia brasileira.
No acumulado do primeiro bimestre deste ano, segundo a autoridade monetária, ainda houve mais ingresso do que saída de recursos do país. Neste período, US$ 2,76 bilhões entraram no Brasil. Nos dois primeiros meses do ano passado, US$ 246 milhões deixaram o país.
Impacto no dólar
A retirada de recursos registrado em fevereiro favoreceria, em tese, a alta do dólar. Com menos moeda norte-americana no mercado, seu preço tenderia, teoricamente, a ficar um maior. No mês passado, de fato, o dólar se valorizou. No fim de janeiro, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 2,68, avançando para R$ 2,85 no fechamento de fevereiro – uma alta de 6,19% no mês passado. Além do fluxo de recursos, outros fatores também influenciam a cotação do dólar no Brasil. Entre elas, estão o comportamento da economia norte-americana, as sinalizações sobre a política monetária nos Estados Unidos, os indicadores da economia brasileira – que registraram desempenho ruim em 2014 – além de declarações de integrantes da equipe econômica e da oferta de contratos de “swap cambial” (que funcionam como venda de dólares no mercado futuro) pelo BC brasileiro, entre outros. Nesta quarta-feira (4), a moeda norte-americana opera ao redor de R$ 3 depois que o governo foi derrotado, na véspera, quando o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, surpreendeu o Executivo ao rejeitar a medida provisória 669, que trata de aumento de tributos sobre a folha de pagamentos. A decisão agrava as dificuldades em torno do ajuste fiscal.
Retirada de estímulos nos EUA
Nos Estados Unidos, a expectativa dos analistas é de continuidade da retirada de estímulos à economia, que começa a dar sinais de recuperação. Em 2015, há previsão de que pode haver até mesmo aumento de juros nos Estados Unidos, o que tenderia a gerar retirada de dólares do Brasil, em direção aos EUA.
Indicadores da economia brasileira
Os indicadores da economia brasileira, que pioraram nos últimos anos e os fracos resultados dos últimos meses, também impactam a cotação do dólar no Brasil. As contas externas registraram em 2014 um déficit de 4,17% do PIB, o que configura o pior resultado em 13 anos (e um dos mais altos do mundo). Ao mesmo tempo, as contas públicas brasileiras tiveram o primeiro déficit da história no último ano, segundo informou o Banco Central. Após o pagamento de juros da dívida pública, foi registrado um déficit de R$ 343 bilhões – o equivalente a expressivos 6,7% do PIB no ano passado.
Swaps cambiais
O BC brasileiro também tem prosseguido com suas intervenções diárias no mercado com os “swaps cambiais” – que funcionam como venda de dólares no mercado futuro, atenuando as pressões no mercado à vista. Em dezembro, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, informou que o programa diário da oferta de swaps terá prosseguimento em 2015, com um valor entre US$ 50 milhões e US$ 200 milhões por dia.
Os swaps cambiais são contratos para troca de riscos. O Banco Central oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento deles, o BC se compromete a pagar uma taxa de juros sobre valor dos contratos e recebe do investidor a variação do dólar no mesmo período.
É uma forma de a instituição garantir a oferta da moeda norte-americana no mercado, mesmo que para o futuro, e controlar a alta da cotação. Assim, o BC acalma a procura por dólares sem mexer nas reservas internacionais.
O investidor, preocupado com a tendência de alta, tem interesse em comprar dólares. Quando aceita a operação, fica estimulado a querer a queda ou a manutenção do dólar, para que não tenha que pagar ao banco mais do que receberá em juros. Essa taxa, normalmente, acompanha a Selic, que é a taxa básica da economia brasileira e hoje está em 12,25% ao ano. Se o dólar tiver variação acima disso, por exemplo, quem perde é o investidor.
(G1 – 04/03/2015)