Close

Not a member yet? Register now and get started.

lock and key

Sign in to your account.

Account Login

Forgot your password?

Previsões para economia pioram mesmo com nova equipe de Dilma

Festejada pelo mercado financeiro e pelo setor produtivo, a nova equipe econômica do governo Dilma Rousseff, anunciada há quase dois meses, ainda não havia conseguido reverter, até a semana passada, os elogios em mudança de expectativas sobre os rumos do país. Os economistas, apontam as pesquisas, ainda não estão convencidos de que o país crescerá mais nos próximos anos, de que a meta de contas públicas será atingida neste ano e de que a inflação convergirá para o centro da meta de inflação até 2018 – fim do atual mandato. Justamente para aumentar a confiança na economia brasileira nos próximos anos, e melhorar as expectativas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou na noite desta segunda-feira (19) medidas para tentar reequilibrar as contas públicas – que sofreram forte deterioração em 2014 com a erosão do superávit primário, a economia para pagar juros da dívida, e possibilitar uma trajetória de queda. Ele anunciou alta da tributação sobre combustíveis, importados e sobre o crédito. “As medidas têm por objetivo aumentar a confiança da economia, a disposição das pessoas e dos investidores em tomarem risco, e dos empresários em começarem a tentar novas coisas”, explicou Levy na ocasião, acrescentando que as alterações tendem a baixar a curva de juros de longo prazo.
PIB
De acordo com pesquisa conduzida pelo Banco Central com mais de 100 instituições financeiras, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuou desde o anúncio dos novos integrantes da equipe econômica. Em 27 de novembro, quando a equipe foi anunciada, o mercado esperava alta de 0,78% no PIB deste ano. Na semana passada, essa previsão caiu para 0,38%.
Produção industrial
A mesma pesquisa também aponta piora nas estimativas do mercado financeiro para a indústria brasileira. Quanto a nova equipe foi anunciada, a expectativa dos analistas era de alta de 1,23% na produção neste ano. No último levantamento, feito na semana passada, os economistas já esperavam alta bem mais modesta, de 0,71%.
Inflação
Apesar de prever uma taxa maior de juros em 2015 e 2016, a expectativa dos analistas das instituições financeiras para a inflação para este ano subiu de 6,47% para 6,67% nesta comparação, e ficou estável para o período de 2016 a 2017, recuando um pouco somente em – ainda assim acima de 5,2% (ainda distante do centro da meta de 4,5%).
Superávit
Na semana passada, o mercado financeiro ainda não acreditava também que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, responsável pela administração das contas públicas, conseguirá entregar a meta de superávit primário (economia feita para pagar juros da dívida pública) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) prometida para este ano, equivalente a R$ 66,3 bilhões. No fim de novembro, a previsão do mercado era de que o esforço fiscal somaria 1% do PIB para 2015 – valor que subiu para 1,05% na última sexta-feira (16), ainda abaixo da meta anunciada para este ano.
Setor externo
Para o setor externo, o mercado prevê piora nas estimativas para o saldo balança comercial brasileira – a previsão recuou de superávit de US$ 6,3 bilhões para US$ 5 bilhões –, mas também estima pequena melhora nas previsões para o déficit em transações correntes (balança comercial, serviços e rendas) e nas estimativas para o ingresso de investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira.
Atividade fraca e perspectivas externas ruins
Na avaliação do economista Sidnei Moura Nehme, da NGO Corretora, apesar da sinalização mais “ortodoxa” (uso da política fiscal para ajudar no controle da inflação e menor intervenção do Estado) do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o que melhora o humor do mercado financeiro, há risco de recessão em 2015 e isto impactará a arrecadação do governo.

“O ministro merece confiança, mas há inúmeros obstáculos para que atinja seus propósitos e anseios, na própria economia e seu estado deteriorado atual, assim como politicamente com uma base de apoio bastante fragmentada, o que tira a convicção de apoio irrestrito a tudo que pretenda realizar”, avaliou Nehme. Para ele, as economias mundiais, com exceção da norte-americana – que emite sinais de recuperação – estão com “perspectivas desalentadoras”. “Não podemos e não devemos perder o foco de que o Brasil está entre as mais frágeis, tendo como causas o equívoco que o levou a adotar políticas absolutamente erráticas. Temos muito a fazer desafiadoramente para repor o país ‘nos trilhos’. Os nomes [da nova equipe] inspiram confiança, mas credibilidade dependerá dos resultados futuros e não dos anseios presentes”, acrescentou o economista da NGO.

Contas públicas frágeis

Patrícia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, avaliou, na semana passada, que as expectativas não melhoram porque a situação econômica, principalmente na parte relacionada com as contas públicas, atualmente é bem ruim.

“É necessário um dever de casa bastante forte que vai muito além das declarações que vêm sendo dadas pela equipe nova. Como todo o mercado sabe, essas medidas dependem que o governo comece a produzir os [resultados] primários [economia para pagar juros da dívida], e isso só vai ser feito com corte de despesas e aumento de receita”, afirmou ela.

“O peso das expectativas é muito importante. Se o empresário e investidor acham que o governo está comprometido e expectativa é boa, e a inflação volta a valores mais próximos da meta, volta a investir. É cíclico. Se o empresariado não acredita, ele não investe. Se o consumidor não confia que o país vai para frente e que seu emprego será mantido, ele não compra”, explicou Patrícia. Segundo a economista, mesmo com o corte de despesas, o que ajuda na política de controle da inflação, os preços ainda vão continuar pressionados neste ano.

“A inflação desse ano vai ser alta e próxima do teto da meta. Tem muito aumento represado, como ônibus urbano e energia”, declarou. Além disso, acrescentou Patrícia Pereira, nas contas públicas, a meta de 1,2% do PIB de superávit primário fixada para o setor público em 2015 é “bastante audaciosa”. “Não é uma medida fácil, principalmente no estágio em que está hoje em dia [o resultado fiscal]. Talvez por isso o mercado não tenha ajustado para 1,2% do PIB [sua previsão para este ano]. O outro motivo é que o Congresso tem que avalizar [as medidas que limitam benefícios sociais]. É um custo político muito grande”, explicou ela na última semana, antes do anúncio de tributos sobre combustíveis, crédito e importados.

Estagnação econômica

De acordo com o diretor-presidente da Fractal, Celso Grisi, os números mais recentes do desempenho da indústria e do comércio varejista, além da “prévia do PIB” divulgada pelo Banco Central, mostram uma situação de estagnação na economia brasileira. “Os dados empíricos não têm ainda dado aos investidores e analistas a certeza de que é possível alcançar um crescimento prometido pelo ministro Joaquim Levy [da Fazenda]”, afirmou ele. Segundo o analista, porém, as taxas de juros de longo prazo já começaram a cair. “No mercado financeiro e de capitais, se começa a acreditar na possibilidade de um ajuste fiscal e de um ajuste na política salarial que venham a ser moderados e que esses ajustes não produzirão uma recessão tão forte”, disse. Grisi observou que há uma “dúvida forte” se o Congresso aprovará as medidas que limitam o seguro-desemprego e as pensões, por exemplo, pois são “impopulares”, e que o cenário externo ainda não está contribuindo para uma expansão maior das exportações brasileiras. Ele explicou que, para haver um convencimento maior dos investidores de que a economia vai melhorar, a demanda tem de começar a se refazer, o emprego “não pode sofrer tanto” e tem de haver uma convicção de que consumo, mesmo baixo, não terá queda. “Aí sim teremos a confiança restabelecida e afastaremos todas incertezas que acabam produzindo um empresário ainda arredio, ainda mostrando uma certa incredulidade”, concluiu Grisi.

O que diz Levy

De acordo com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o objetivo da equipe econômica é trabalhar para garantir as condições para a retomada da economia e para voltar a gerar empregos em uma quantidade adequada.Ele reafirmou, durante café da manhã com jornalistas na semana passada, que haverá ajuste nas contas públicas, com alta de impostos e contenção de gastos, para buscar a queda da dívida pública nos próximos anos e uma melhora na nota brasileira pelas agências de classificação de risco. Segundo Levy, o governo precisa “acertar alguns os ponteiros para o investimento voltar, para a confiança, para as pessoas quererem tomar risco nas empresas”. “Eu acho que o entendimento disso está bastante claro. Acho que as pessoas percebem a necessidade”, declarou nesta semana.

(G1 – 20/01/2014)

Login