Os produtores de biodiesel estão em campanha para que esse aditivo feito à base de soja suba gradualmente dos atuais 5% até chegar a 20% do volume de óleo diesel mineral em 2020.
Criado em 2003 pelo presidente Lula, o programa de produção de biodiesel é um sucesso social – em 2012, mais de l05 mil agricultores faturaram R$ 2 bilhões com a entrega de soja nas usinas – mas no aspecto econômico está decepcionando. O motivo é a supervalorização da matéria-prima principal.
A soja entrou nos primeiros meses deste ano custando quase R$ 2 por quilo no atacado, enquanto o litro do biodiesel não chegou a alcançar R$ 2 nos dois leilões realizados em janeiro e março de 2013 pela Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis. É um impasse semelhante ao dos produtores de etanol, que não conseguem produzir a um custo competitivo com a gasolina. Por isso os produtores de biodiesel pressionam o governo pelo aumento da adição ao diesel, já que não falta capacidade de produção.
No momento, a capacidade instalada é de 7,1 bilhões de litros de biodiesel. A maior parte das 93 usinas existentes no país é controlada por grupos tradicionais como ADM e Bunge. Em algumas, como a BsBios, de Passo Fundo, a própria Petrobras é acionista. E a estatal promete aprofundar sua participação: dos US$ 236,7 bilhões que investirá até 2018, US$ 2,9 bi estão reservados para biocombustíveis (biodiesel e etanol).
Estado é o maior produtor
O Rio Grande do Sul com oito usinas ativas detém 30% da capacidade nacional de produção de biodiesel. Como o Estado não representa mais do que 8% do consumo, criou-se uma situação logisticamente desfavorável, já que é preciso transportar a maior parte da produção gaúcha para os principais polos de consumo, no Sudeste e outras regiões. “Nós vamos pagar o preço da distância”, diz Arlindo Bianchini, 72 anos, sócio-diretor da cinquentenária Bianchini, de Canoas, que acaba de entrar no “clube do biodiesel”, com uma capacidade de produzir 324 milhões de litros por ano.
Enquanto novos investidores estão entrando no biodiesel, outros estão passando suas usinas adiante. O caso mais notório é o da Ecodiesel, uma das pioneiras do ramo. Depois de abrir sete usinas do Ceará ao Rio Grande do Sul, em 2011 ela vendeu duas delas (em Iraquara, BA; e Porto Nacional, TO) para a Oleoplan, de Veranópolis, RS. Uma terceira, implantada em Rosário do Sul, RS, foi vendida à Camera Agroalimentos, de Santa Rosa, que está transferindo essa planta para Estrela. Em Rosário do Sul, faltou matéria-prima para a operação da usina. Os investidores da Ecodiesel desdenharam o fato de que ali predomina a pecuária.
“O biodiesel se ajustou bem à agricultura gaúcha, que produz bastante soja, mas surpreendentemente não despertou a atenção das cooperativas, que estiveram na arrancada da industrialização da soja, décadas atrás”. O comentário é do agrônomo Alencar Rugeri, da Emater, que vê uma dicotomia entre o discurso e a prática em torno dos biocombustíveis. A energia de biomassa vive de espasmos, diz ele. Já se falou em etanol de arroz, de capim elefante, de resíduos da celulose, mas as conversas se apagam diante de episódios globais como a crise financeira mundial ou o vencimento do Protocolo de Kyoto. Além tanto o etanol quanto o biodiesel e outras alternativas energéticas estão submetidas à lógica do modelo econômico ajustado ao petróleo.
(Revista JÁ Especial Emergia, 24/07/13)