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Aumento da influência chinesa na América Latina é alerta para o Brasil

A economia argentina encontra-se em uma encruzilhada. A combinação entre a impossibilidade de acessar financiamento externo e a acelerada deterioração do déficit público, em função de elevados subsídios à energia e ao transporte, deixou o país na rota da estagnação e alta inflação. O ponto mais crítico é a restrição ao crédito externo, que tem ocasionado quedas contínuas nas reservas internacionais – hoje em 6% do PIB contra 15% três anos atrás – e pressiona o país na direção de uma crise cambial. E esse é um dos fatores centrais que explicam a aproximação recente de Argentina e China e a assinatura do polêmico acordo entre os dois países. Firmado em julho de 2014, e aprovado pelo Senado, a implementação do Marco de Cooperação em Matéria Econômica e de Investimentos foi a razão da visita da presidente Cristina Kirchner à China nos últimos dias. Para entender esse acordo, é preciso lembrar que ele foi precedido por outro, um convênio de swap cambial de US$ 11 bilhões que tem sido o combustível para acalmar a crise do setor externo argentino. Três pontos do Marco de Cooperação merecem destaque. Primeiro, a previsão de investimentos chineses na Argentina em setores com potencial de exportação à China, tais como energia, mineração e agricultura. O segundo, mais polêmico, indica que, por cinco anos, a Argentina concederá à empresas chinesas, sem concorrência, projetos de infraestrutura que contarem com financiamentos do país asiático. Por último, institui que os países podem gerar facilidades em “atividades lucrativas”, o que, segundo entidades de classe do país, facilitaria a entrada de trabalhadores chineses e deslocaria mão de obra local. O contexto argentino, no entanto, não é o único fator que explica o acordo, mas também o ganho de influência chinesa na América Latina. O comércio foi a porta de entrada e a China já é o terceiro maior parceiro comercial da região, com expectativas de passar a União Europeia em dois anos. Depois, vieram os investimentos no continente (US$ 40 bilhões segundo a Cepal), tanto para assegurar recursos naturais quanto em manufaturas. Porém, a novidade dessa influência são os empréstimos. De acordo com pesquisa realizada pela Boston University, bancos chineses já emprestaram mais de US$ 100 bilhões a países da região, sobretudo como alternativa para aqueles com dificuldades em obter financiamentos internacionais. Além da Argentina (US$ 16,5 bilhões), a lista de principais beneficiados conta ainda com Equador (US$ 14,9 bilhões) e a Venezuela (US$ 50 bilhões). A influência chinesa na região e o acordo com a Argentina, em particular, impactam os interesses econômicos do Brasil. O principal ponto é o acirramento da competição e provável perda de mercado em serviços de engenharia e também em bens importados da China utilizados nessas obras. A construção das hidrelétricas Nestor Kirchner e JorgeCepemic, na Patagônia, por exemplo, (de US$ 4,7 bilhões), será realizada pela chinesa Gezhouba, que ganhou do consórcio liderado por uma construtora brasileira. Apesar da proximidade política no âmbito dos Brics, falta ao Brasil uma estratégia para lidar com a China na região. A atuação chinesa pode ser direcionada para auxiliar a integração, por exemplo, aportando capitais em projetos em parceria com empresas da região nas áreas de energia e infraestrutura que reduzam custos empresariais, como a construção do corredor ferroviário que liga Brasil e Peru. Ademais, investimentos chineses em manufaturas podem colaborar na construção de cadeias que aproveitem os acordos comerciais da região. O aumento da influência chinesa é também um sinal claro de alerta de que é preciso agir para atualizar as normas do Mercosul e aprofundar os acordos que o Brasil tem na região. Celebrar acordos em serviços, compras governamentais e investimentos garantiriam regras mais favoráveis à criação e ao fortalecimento de cadeias regionais.

(Portal da Industria – 19/03/2015)

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